quarta-feira, 7 de outubro de 2009

A mudança


Entrou na loja. Dirigiu-se ao balcão.

– Queria um romance.
– Um romance?
– Um romance é um romance e eu preciso de um.
– Não temos!
– Não percebe que é urgente. Não aguento nem mais um minuto sem um romance.
– Lamento, mas não posso ajudá-lo.
– Então um livro de poesia.
– Poesias... não vendemos.
– Ao menos uma história para crianças.
– Tenho muita pena mas também não temos histórias, nem para crianças nem para adultos.
– Seja! Dê-me um relato de viagem, um diário, uma biografia, ou até um dicionário. Qualquer coisa! A minha cabeça anda à roda, os braços e as pernas tremem, o suor escorre pelas costas. Tenho de ler!
– Mas... mas... Um momento!
A empregada deixou-o e foi ao escritório. Pegou em todas as folhas e folhetos com descrições sobre rosas: qualidade, cores, plantação, tratamentos, cuidados, preços. Meteu tudo dentro de uma capa e deu-lhe um título. Voltou para junto do cliente.
– Aqui tem: “O romance da rosa”, é oferta da casa.
– Muito obrigado! Mas que estranha está a vossa livraria!
Dito isto, saiu apressado sem ouvir as palavras da empregada:
– O senhor ainda não reparou. Esta loja já não é uma livraria. Mudou de ramo há três meses. Agora vendemos flores.




Do quanto precisamos de ler...

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